Resumo:
Justiça
-Primeiros Diálogos (temas de ordem moral): Platão relata Sócrates
em situações cotidianas, sem interesses cosmológicos ou metafísicos, o
interesse destas ideias é prático, ético e político (tornar os cidadãos
virtuosos). Que esta virtude se possa alcançar pelo conhecimento deriva de uma
postura de intelectualismo moral, segundo a qual ninguém faz o mal
sabendo-o. Encontramos aqui, portanto, um primeiro aspecto da reflexão
filosófica de Platão sobre a justiça: necessita de conhecimento. A virtude
exige o conhecimento. – Organizar a cidade para que a Filosofia não seja
objeto de perseguição. Pela Maiêutica (parto das ideias) e a Ironia
(dissimulação), Sócrates conduz os diálogos à Aporia (falta de conclusão
ou recursos argumentativos sobre o
assunto). “Só sei que nada sei!”.
-Diálogos de Transição: sob influência
pitagórica, Platão introduz concepções harmônicas e matemáticas nos diálogos
para a concepção da Alma (teoria da Reminiscência), tudo voltado para formar os
possíveis estadistas da cidade. Reminiscência= todo o conhecimento é só a
recordação do que a alma (que, portanto, deve preexistir ao corpo) conheceu
quando ainda estava livre do corpo - esta
teoria exige esforço (ascese) aos homens x a forma de se aprender as
virtudes pagando professores (Sofistas).
-Diálogos da Maturidade: onde se dá a introdução
dos temas das Ideias como Universais que se manifestam na multiplicidade dos
particulares. A relação que se estabelece entre o conhecimento sensível e a
razão são a seguinte: o conhecimento sensível suscita em nós a noção das
ideias, mas isto só acontece porque já as conhecemos antes. (na Teoria das
Ideias).
No caminho para a principal obra, que será “A Republica”, Platão vai introduzindo os
temas mais importantes que giram em torno da sua visão de Bem e Justiça, assim
introduz no “Banquete” o tema do Amor (amor vulgar, divino, universal,
social). A visão de amor que vence o diálogo é o da visão de Ágaton participa
da Justiça, da Temperança, da Coragem e da Sabedoria. Porém ali Sócrates dá
vitória à visão de Diótima: o amor como Sabedoria o amor não é bom nem é belo;
mas também não é mau nem é feio. É um intermediário entre os deuses e os
homens: um daimon (um inspirador)
A
República: O objeto da República (mais corretamente, Politeia)
é o chamado desafio de Gláucon: fazer
a defesa da justiça.
Começamos
por uma pequena cidade ou aldeia que vive em paz e justiça. A cidade cresce com
o aparecimento do luxo e da riqueza, ou, dito de outro modo: com a
possibilidade dos prazeres sem limite (o fluir, a díade indefinida). O
indicador deste crescimento é a necessidade de guardiães. Uma cidade
pequena (“de porcos”, em grego) não precisa de guardiães, mas uma cidade grande
precisa deles. O problema do crescimento consiste, então, no perigo de esses
guardiões se tornarem nos lobos da própria cidade, se não forem
convenientemente educados. A educação dos guardiões é a purificação
da cidade grande.
Alma
(como o que move o corpo) + Justiça (como Virtude) = Boa
administração da cidade. A justiça da cidade consiste em que cada parte
faça o que lhe corresponde de forma harmônica.
A alma é
o que move o corpo dos homens, temos três tipos de seres humanos (Produtores,
Guardiões, Filósofos), baseados em suas Virtudes:
- A virtude dos produtores é a temperança;
a virtude dos guardiões tem de ser a coragem e a dos filósofos é a
prudência. A justiça da cidade consiste em que cada parte faça o que lhe
corresponde de forma harmônica.
Tanto
as paixões como os desejos não podem, nem devem, ser eliminados
da cidade (corresponderia a eliminar a riqueza ou a segurança), mas devem
ser guiados pela sabedoria, para que não se destrua a coesão.
No
capitulo VII da Republica, na parte
da Alegoria
da Caverna Sócrates diz explicitamente que pretende explicar a situação
do homem “relativamente à educação e à falta dela”. Isto é, esta
Alegoria é sobre a educação, ou, o que é o mesmo, sobre a transmissão da virtude,
tema verdadeiramente nuclear da filosofia platônica, que considera a educação
como a ação política mais importante dos humanos.
O
dilema que aparece na Alegoria é o
eterno dilema da humanidade: a tripla
batalha entre o conhecimento, a liberdade e a felicidade. Não podemos
ser livres, se não conhecemos a nossa situação (isto é: o que realmente
escolhemos, quando acreditamos estar a fazer opções), mas, por outro lado, para
poder conhecer, já temos de ser um pouco livres (como o primeiro escravo que se
liberta das correntes).
A pergunta
que nunca passa de moda é a que nos leva a procurar saber se estamos dispostos
a trocar a nossa ignorante felicidade pela simples aspiração a uma (possível)
felicidade mais elevada, sabendo que corremos o risco de perder tudo.
O fato
de que um escravo (que não possui nada, mas tem capacidade de esforço) seja mais
capaz de conseguir compreender uma dedução matemática do que um rico ateniense,
possuidor de muitos cursos com Sofistas, mas incapaz de esforço intelectual,
mostra-nos que a incapacidade para o esforço não é inata: chama-se preguiça.
A
Platão, como pensador político, não passa despercebida a ideia de que a
ordem política só pode ser construída sobre uma eficiente transmissão da
virtude, pois a democracia facilmente se transforma em demagogia.
Esta é
a grande descoberta de Platão: a impossibilidade de separar a ética da
política.
A
justiça é, antes de tudo e sobretudo, uma virtude da alma humana. Não pode
haver uma cidade justa composta por homens injustos.
Mas, afinal,
o que é a Justiça para Platão? Tal como para Aristóteles, a justiça é uma
questão matemática: fazer cada um aquilo que lhe é adequado, isto é, equidade e
retribuição mútua.
Assim
sendo, o que deverá fazer-se é pedir a cada um aquilo que possa dar à
comunidade e dar a cada um aquilo que queira obter dela. Isto será a justiça
para Platão.
-
Divisão justa e organizada da cidade:
Tipos
de Pessoas:
|
Virtudes Predominantes:
|
Ideal que os movem:
|
O que querem da cidade:
|
Virtude:
|
Vícios
Sociais:
|
Produtores
|
Temperança
|
Desejo
|
Bens materiais
|
Trabalho
|
Consumismo
Corrupção
|
Guardiões
|
Coragem
|
Paixão
|
Honrarias
|
Sacrifício
|
Guerras
Disputas
|
Filósofos
|
Prudência
|
Conduzir
|
Educar
|
Sabedoria
|
Ditadura
|
Para
sabermos o que é adequado a cada homem, é necessário que os
classifiquemos, isto é, é necessário que procedamos à classificação das almas
dos homens. Tendo essa classificação uma clara intenção política, as suas
consequências podem ser encontradas na organização da cidade proposta na Politeia
(República). No entanto, a fonte, onde podemos encontrar a sua concepção
da alma, é o “Mito do carro alado” explicado por Sócrates no diálogo Fedro.
Interpretemos,
então, o Mito: Os grego concebem a vida como auto-movimento e
a alma como o princípio desse auto-movimento vital. A alma é, assim,
como que o “motor” do corpo, se por movimento entendermos qualquer mudança
(crescimento, aprendizagem, etc.). Segundo Platão, o homem move-se por dois
impulsos básicos: os desejos e as paixões.
Os desejos,
aquilo que mais nos aproxima dos animais (embora, pela sua plasticidade, sejam
muito diferentes dos impulsos e instintos animais) relacionam-se com a materialidade
do nosso corpo: impulsos sexuais, fome, etc. Os desejos é o que é
representado, no Mito, pelo “cavalo negro”.
Por
outro lado, também somos movidos por paixões: o amor, o ódio, a
glória, o sucesso, a riqueza....
Por
fim, há um terceiro princípio na alma: o condutor ou áuriga, que
não tem força nenhuma, só a capacidade de ver. Por isso, a sua única
missão é a de conduzir, guiar o carro o mais alto possível, mas em harmonia,
evitando a ruptura da parelha de cavalos. Este terceiro princípio da alma é
a forma platônica de entender a sabedoria.
Importa
agora explicar a diferença entre desejos e paixões e por que é que
Platão considera a paixão um princípio positivo (que nos ajuda a ir mais alto)
e considera o desejo um princípio negativo (que nos faz rastejar): o desejo
sexual é simplesmente isso mesmo: desejo; pelo contrário, o amor é uma
paixão.
Por
desejo, devemos entender toda a inclinação ou tendência imediata para
algo. Aqui, a palavra chave é “imediata”.
O desejo não é autoconsciente, é um simples impulso, que não contém
em si os seus próprios limites:
assim, quando temos muita fome, tendemos a servir-nos de mais comida do que a
que somos capazes de comer (ter mais olhos do que barriga) e
muito mais do que a que nos convém comer. O mesmo acontece com todos os
desejos. A imagem de Platão para o desejo é a de fluxo. Os desejos
são um fluxo interminável, incapaz de refrear-se a si mesmo e que só nos pode
conduzir à doença, à pobreza e, em geral, à infelicidade. Desejo é só desejo
de desejar (para sentir-se vivo).
As
paixões são também uma força que, não sendo controlada, nos pode conduzir
às piores desgraças. Mas têm algo a seu favor: a capacidade de sacrifício.
Com
efeito, se para alguém é muito importante ser o primeiro em algo (paixão pelo
sucesso), terá de ser capaz de se sacrificar para o conseguir.
Isto é o que a paixão tem de bom e, por isso, ajuda-nos a subir mais alto,
porque contém em si a capacidade para o esforço, que, como vimos, é fundamental
para a transmissão da virtude. Aquele que não seja capaz de se sacrificar
por nada, que não tenha paixões, não alcançará nunca a virtude.
Há, portanto,
homens guiados prioritariamente pelo
desejo, há homens prioritariamente guiados pelas paixões e há homens
prioritariamente guiados pela sabedoria. Consistindo a justiça em que cada
um faça aquilo que lhe é próprio, esta tipologia de Platão conduz a uma divisão
política da comunidade (ver quadro acima). Esta divisão não é estática,
consiste num equilíbrio dinâmico que resulta precisamente do fato de o
problema central da comunidade, o principal problema político, ser precisamente
a transmissão da virtude. É por esta razão que a Alegoria da Caverna é
tão determinante para a compreensão de toda a filosofia de Platão. Há
indivíduos, em que predomina claramente o fluxo dos desejos e a incapacidade
para o sacrifício. Estes indivíduos são felizes como consumidores. Neles, e no fato
de constituírem a maioria, baseia-se o consumismo da sociedade.
Produtores:
A estes consumidores não podemos pedir que se sacrifiquem pelo bem comum, só
lhes podemos pedir que produzam aquilo que consomem. Por outro lado, a
estes indivíduos não lhes interessa a política (o governo do que é comum), a
não ser que vejam nela uma oportunidade de negócio. Por isso, segundo Platão, é
preferível mantê-los afastados da atividade política. Platão chama a este
grupo os produtores, por estas mesmas razões.
Guardiões:
Outro grupo de pessoas aspira, acima de tudo, a ser reconhecido; esses buscam
a honra, a fama, a glória, o êxito. Se deixássemos o governo da cidade nas
suas mãos, seriam tanto ou mais perigosos do que os anteriores, como acontece
nas ditaduras militares, porque não hesitariam em inventar guerras só para
poderem ser condecorados, como diz Platão. No entanto devemos reconhecer neles
a capacidade para sacrificarem todos os seus desejos, a própria vida, se for
caso disso, para salvar a comunidade. Por isso, Platão acha que devem ser os
guardiães da cidade.
Filósofos:
O ideal, já o vimos, consiste no equilíbrio entre as duas forças da alma,
sob o comando da razão. Filósofo é aquele que é capaz de sacrificar os seus
desejos e as suas paixões em nome do conhecimento “simplesmente porque sim”. Só
aquele que assim governa a sua alma tem capacidade para governar a cidade. O
bom governo implica a manutenção do equilíbrio dinâmico entre as duas forças
opostas: os produtores e os guardiões. Este equilíbrio consegue-se, dando-se a
cada um aquilo de que necessita e só lhe pedindo aquilo que possa dar à comunidade.
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